quinta-feira, 2 de maio de 2013

A Liberdade Poética de Fernando Pessoa


Plano de Aula de Literatura Portuguesa referente à Terceira Aula do Projeto “Modernamente”



Justificativa
O Projeto “Modernamente” visa o acesso às mídias para incentivar o aluno à pesquisa através de blogs e redes sociais e não somente acessá-las para diversão. Ou seja, o Projeto visa, além de transmitir conhecimento, provocar a curiosidade e o desejo pela pesquisa, mostrando que a pesquisa não precisa ser algo “mecânico” e cansativo, mas sim que ela pode ocorrer de diversas formas possíveis, seja nos livros ou nos vídeos, documentários etc.
Nesta aula os alunos levarão à classe poemas de Fernando Pessoa (“ele mesmo”, ou seja, seu “ortônimo) e a interpretação dos poemas será o foco da aula.

Objetivos
O objetivo principal dessa aula é provocar no aluno o desejo pela pesquisa, pela literatura (portuguesa ou não, pela literatura em geral), pelas poesias, pelos poemas etc.
Incentivar a leitura e a execução desta, para que ocorra conforme o gênero textual poema pede, respeitando as pausas, a musicalidade etc.
Trabalhar a interpretação de texto, que com o gênero poema se torna ainda mais “difícil”, visto que o gênero poema traz várias interpretações, através das figuras de linguagem etc.

Ano / Série
8° ano / 7ª série.

Tempo Estimado
Uma aula com a duração de 50 minutos.

Material Necessário
- Caderno.
- Lápis e canetas.
- Dicionário.
- Livros para pesquisas e com os poemas de Fernando Pessoa.
- Quadro negro.

Metodologia
O aluno nesta fase, segundo Jean Pierre Piaget, está no período das operações formais (que dura entre os 12 e os 15 anos, em média). Neste período que o aluno desenvolve raciocínios abstratos, sem a necessidade de haver o contato com a realidade. Para leitura isso é extremamente importante, visto que, esta não necessita estar dentro daquilo que está escrito e pode ser interpretada pelas entrelinhas: a interpretação das figuras de linguagem, da conotação (acrescentar um significado a uma palavra, possibilitando mais do que uma interpretação, então, fazendo-se necessária a interpretação de toda a frase / do poema, de um contexto etc.).

Desenvolvimento
No primeiro momento serão apresentados diversos autores do Modernismo Português, porém, a ênfase será em Fernando Pessoa nesta aula. Não será mencionada a existência dos “outros” poetas que Fernando Pessoa era, ou seja, os seus heterônimos. Estes serão apresentados na aula seguinte.

Conteúdo
Breve retomada ao conteúdo da aula anterior (o que é Modernismo), acrescentando autores importantes do Período Literário estudado (como, por exemplo, Mário de Sá-Carneiro, mas sem detalhar suas obras e biografia), seguidos por parte da biografia de Fernando Pessoa (“ele mesmo”) e alguns poemas, de preferência os pesquisados pelos alunos e uma breve interpretação

Breve Biografia de Fernando Pessoa
Fernando Pessoa (1888-1935) nasceu em Lisboa, Portugal, no dia 13 de junho de 1888. Ficou órfão de pai aos 5 anos de idade. Seu padastro era o comandante João Miguel Rosa. Foi nomeado cônsul de Portugal em Durban, na África do Sul. Acompanhou a família para a África e lá recebeu educação inglesa. Estudou em colégio de freiras e na Durban High School.
Em 1901 escreveu seus primeiros poemas em inglês. Em 1902 a família volta para Lisboa. Em 1903 Fernando volta sozinho para a África do Sul, onde submete-se a uma seleção para a Universidade do Cabo da Boa Esperança. Em 1905 de volta à Lisboa, matricula-se na Faculdade de Letras, onde cursou Filosofia. Em 1907 abandona o curso. Em 1912 estreou como crítico literário.
Em 1915, liderou um grupo de intelectuais, entre eles Mário de Sá Carneiro e Almada Negreiros. Fundou a revista Orfeu, onde publicou poemas que escandalizaram a sociedade conservadora da época.
Fernando Pessoa mostrou muito pouco de seu trabalho em vida. Em 1934 candidatou-se com a obra "Mensagem", um dos poucos livros publicados em vida, ao prêmio de poesia do Secretariado Nacional de Informações de Lisboa. Ficou em segundo lugar.
Fernando António Nogueira Pessoa morreu em Lisboa, no dia 30 de novembro de 1935

Avaliação
A avaliação será realizada conforme a participação do aluno: se este buscou o conteúdo pedido na aula anterior (vale lembrar que o professor deverá considerar se o aluno tem acesso à internet, por exemplo); se participou da leitura, o que ele conseguiu interpretar acerca do tema dos poemas lidos em classe etc.

Bibliografia
PESSOA, Fernando. Antologia Poética. Coleção Saraiva de Bolso, 64 páginas.
MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa. São Paulo: Cultrix, 2006.
FACHIN, O. Fundamentos de metodologia. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

Modernismo Português

O modernismo português desenvolveu-se desde o início do século XX até o final do Estado Novo, na década de 1970. Trata-se de um período amplo, no qual três vertentes são muito importantes: o Orfismo, o Presencismo e o Neorrealismo, cada um com características marcantes e de grande influência.
O nome Orfismo está vinculado aos escritores ligados à revista Orpheu, responsável por levar para Portugal às discussões culturais da Europa, um continente imerso na eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914. Os intelectuais ligados à publicação buscavam deixar de lado o então acanhado meio cultural português, voltando-se para um mundo novo, regido pela velocidade, pela técnica, pelas máquinas e por infinitas possibilidades de visão do mundo.
A revista, embora influente no meio literário, teve apenas dois números em março e junho de 1915. Os destaques eram Mario de Sá-Carneio, Almada Negreiros e Fernando Pessoa. A contestação da literatura tradicional trouxe escândalo, incompreensão da crítica conservadora e insucesso financeiro, que levou a publicação à falência.
Um segundo momento foi o Presencismo. O nome vem da revista Presença, “Folha de arte e crítica”, fundada em 1927, em Coimbra, por Branquinho da Fonseca, João Gaspar Simões e José Régio. Reuniu aqueles que não participaram do Orfismo e buscou aprofundar discussões sobre teoria da literatura e sobre novas formas de expressão. Com dificuldade, conseguiu se manter até 1940. A influência das idéias da psicanálise freudiana foi grande no sentido de reforçar os universos da individualidade criativa, da análise psicológica e da intuição.
O Neorrealismo, já na década de 1940, caracteriza-se pelo combate ao fascismo e defende a literatura como uma forma de crítica e denúncia social com uma postura combativa e reformadora, a serviço da sociedade. Seu nome provém do diálogo com a literatura brasileira, principalmente com escritores como Jorge Amado e Graciliano Ramos, justamente pela proposta de trazer um alerta contra a exploração do homem pelo seu semelhante. O socialismo marxista é a ideologia utilizada para combater a opressão. Ferreira de Castro é um exemplo. Nele reduz-se o intelectualismo e a psicologia em nome da análise de problemas de natureza social, mesma trilha de Alves Redol, Manuel da Fonseca e José Gomes Pereira, entre outros.
Portanto, desde o marco inicial, a publicação da revista Orpheu, em 1915, influenciada pelas grandes correntes estéticas europeias, como o Futurismo e o Expressionismo, ao neo-realismo, houve uma alteração de percurso. Passou-se de uma poesia mais complexa e de difícil acesso ao engajamento explícito dos neorrealistas. Em comum, porém, está a busca de um rompimento com o passado e uma visão crítica, demolidora e irreverente da arte, da política e da cultura portuguesas.
Por Oscar D'Ambrosio
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação. Oscar D'Ambrosio, jornalista, mestre em Artes pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), é crítico de arte e integra a Associação Internacional de Críticos de Artes (Aica - Seção Brasil).

Extraído de http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/modernismo-portugues-as-tres-vertentes-da-literatura-moderna-em-portugal.htm em 01 de Maio de 2013 às 15h47.

"Tabacaria" de Álvaro de Campos



"Tabacaria" de Álvaro de Campos por Yuri Vieira:





Extraído de http://www.youtube.com/watch?v=Mio6VDuX_S8 no dia 01 de Maio de 2013 às 11h48.

Tabacaria 


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos

Extraído de http://www.insite.com.br/art/pessoa/ficcoes/acampos/456.php no dia 01 de Maio de 2013 às 11h59.

"As rosas amo dos jardins de Adónis" de Ricardo Reis

"As rosas amo dos jardins de Adónis" de Ricardo Reis por Sinde Filipe:




Extraído de http://www.youtube.com/watch?v=FDRBwxiccTc no dia 01 de Maio de 2013 às 11h21. 


As Rosas Amo dos Jardins de Adônis

As Rosas amo dos jardins de Adônis, 
Essas volucres amo, Lídia, rosas, 
Que em o dia em que nascem, 
Em esse dia morrem. 
A luz para elas é eterna, porque 
Nascem nascido já o sol, e acabam 
Antes que Apolo deixe 
O seu curso visível. 
Assim façamos nossa vida um dia, 
Inscientes, Lídia, voluntariamente 
Que há noite antes e após 
O pouco que duramos. 

Ricardo Reis, in "Odes" 

Extraído de http://www.citador.pt/poemas/as-rosas-amo-dos-jardins-de-adonis-ricardo-reisbrheteronimo-de-fernando-pessoa no dia 01 de Maio de 2013 às 11h32


"Quando Vier a Primavera" de Alberto Caeiro

Declamação (em Português de Portugal) de "Quando Vier a Primavera" de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, por Pedro  Lamares: 



Extraído de http://www.youtube.com/watch?v=ZNWEmKLLFWA no dia 01 de Maio de 2013, às 09h58.



Quando Vier a Primavera

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.  
O que for, quando for, é que será o que é.


Alberto Caeiro

Extraído de http://www.revista.agulha.nom.br/fp275.html no dia 01 de Maio de 2013 às 10h05.

"Eros e Psique" de Fernando Pessoa por Maria Bethânia


Maria Bethânia, ícone da Música Popular Brasileira e conhecida por declamar poesias em seus shows, recita "Eros e Psique", de Fernando Pessoa:


Extraído de http://www.youtube.com/watch?v=4XJMoBq7fNQ no dia 20 de Abril de 2013 às 10h36.
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada

A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,

Vencer o mal e o bem,

Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.


A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,

Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.


Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,

Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino

Ela dormindo encantada,

Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.


E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,

E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,


E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,

Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.


Fernando Pessoa 


Extraído de http://www.dicta.com.br/edicoes/edicao-1/eros-e-psique/ no dia 20 de Abril de 2013 às 10h49.